Resenha - Véspera

sexta-feira, 1 de março de 2024

 


Entre as minhas metas quantitativas do ano estão: ler 10 livros e publicar 5 textos. Acho que não estou roubando se eu juntar as duas coisas, né?!

Como falar de ‘Véspera’? ~ não contém spoilers.

Ano passado buscava uma leitura diferente e cheguei em ‘Tudo é Rio’, da Carla Madeira. A princípio o que mais me motivou foi sair da mesmice de literatura estrangeira e o fato de ser uma autora mulher. Mas ‘Tudo é Rio’ foi muito mais do que isso. Não cheguei a escrever sobre ele e acho que nem consigo agora, depois de tantos meses. Mas fato é que fui imersa e levada nessa correnteza, com o perdão do trocadilho. Fiquei encantada pela escrita da Carla e sedenta por mais – será que foi a sorte de um livro de estreia ou ela sustentaria isso em outras histórias? ‘Véspera’ não me decepcionou. Encontrei o mesmo fôlego de leitura, página após página. Honestamente, não sei dizer qual gostei mais. Um me ganhou mais pelo fim, o outro pelo desenrolar da trama. Indico ambos a quem quiser se jogar numa nova experiência de leitura.

‘Véspera’ é um romance de ficção, sem ficção nenhuma. Na verdade, traz uma realidade quase palpável. A história começa em uma manhã comum e repetitiva na vida de Vedina, uma mulher aparentemente bem sucedida, com um filho de 5 anos e um casamento fracassado com Abel. O início é muito rápido, em poucas páginas você é atropelado pelo nível de cansaço e angústia de Vedina. O marido que não ajuda em nada e nem sequer mais dorme na mesma cama que ela, a rotina, a sobrecarga, o cansaço, uma mulher despedaçada, e Augusto com 5 anos e energia de sobra. Com a correria das primeiras horas do dia entre se arrumar, arrumar o filho e a bagunça da casa, num momento de descontrole, no ápice do seu estresse, Vedina abandona Augusto numa rua movimentada de mão única. Em coisa de segundos, imediatamente ela se dá conta da sua atitude, se arrepende e dá a volta no quarteirão para busca-lo. O menino não está mais lá.

Carla Madeira flerta o tempo todo com o indizível intransponível, com o pecado imperdoável, ao mesmo tempo que nos faz sentir afeição e asco pelo pecador. Ela tem a capacidade de descrever e desnudar – por vezes literalmente – seus personagens, de forma que atingimos um nível de intimidade incômoda com eles. Ela sabe aguçar a curiosidade, trazendo uma leitura ávida, seja pelo prazer transcorrido, seja pela necessidade de se resolver o entrelaçado apresentado. Mas, não se engane, ainda que com fluidez, não é uma leitura fácil, há peso e densidade em cada página. Considero-me uma pessoa com um bom vocabulário, ainda assim, neste livro me vi por muitas vezes buscando por novas palavras no Google. Não que o contexto não fosse capaz de traduzir, mas por serem realmente novas pra mim. Um abraço à Carlinha por essas adições.

A estrutura da narrativa apresentada é intercalada capítulo a capítulo com focos distintos. Já vi outros autores utilizarem deste artifício com bastante sucesso para fomentar a curiosidade e manter a leitura (Dan Brown escalonou ‘O código da Vinci’ desta forma), assim como também a presença de flashbacks (em ‘A mulher do viajante no tempo’, por exemplo). Mas a autora traz isso muito evidenciado em ‘Véspera’, de uma forma que eu nunca tinha visto. No início do livro a sensação é de se estar acompanhando duas histórias distintas, até que, de maneira rápida e muito natural, percebe-se que é uma coisa só. A história “atual” - segue no presente, com desespero de Vedina pelo sumiço de Augusto – e a “outra” história, na véspera da véspera da véspera, com todos os acontecimentos que fizeram chegar até aquele momento. Os capítulos atuais são crescentes e curtos, onde em cada um vamos nos preocupando e vivendo a agonia da consequência de um ato impensado. Os capítulos de passado são decrescentes e longos, até chegarem no denominador comum.

Talvez seja batida a ideia do “efeito borboleta”, onde pequenos atos podem refletir no rumo das coisas drasticamente. Mas é muito interessante acompanhar essa narrativa numa família tipicamente brasileira, com as singularidades e complexidades de cada personagem. Em quase 300 páginas o leitor é exposto ao núcleo familiar e adjacências de Custódia, uma crente fervorosa, com seu marido Antunes, imerso no alcoolismo desde sua infância, e seus filhos gêmeos, com o destino marcado por uma decisão infeliz.

O final me pegou de surpresa e talvez tenha ficado um tanto distante da minha expectativa, mas desapeguei. Este não é um livro sobre finais. É um livro sobre a véspera deles.

Dia 42

sábado, 28 de outubro de 2023



 

Abri os olhos. As misturas de perfume, a explosão de cores, os barulhos da vida animada em florescer me causaram confusão. Era primavera. Aos poucos fui acostumando e gostando. Aprendendo que algumas flores tinham espinhos, outras só beleza, algumas curavam. A primavera traz despreocupação e expectativas, parece que só pode ficar melhor.

Na hora do almoço, já era verão. Com o calor intenso vem a sede. E haja sede. De dose, de copo, de balde se tiver a chance. No auge do verão não dá nem pra considerar que um dia o inverno chega. Alguns insistem em querer lembrar. Outros dão avisos em tom de ameaça, ou talvez saudosismo: "aproveite esse calor, você não sabe o que te espera!". Mas como comprar roupas de frio com os poros dilatados com o vapor da vida?

Perto do fim da tarde, o outono bateu na porta. Primeiro tímido e depois quase tão confuso quanto o início da primavera. Com momentos que ainda parecem tão quentes, mas sem poder arriscar sair sem levar uma blusa. As árvores começaram a perder folhas e eu me perguntava se voltariam a ser iguais. Ao mesmo tempo que comecei a admirar as novas tonalidades que as decoravam. De repente, ficar em casa parecia melhor do que toda a agitação e bagunça do verão. O som do vento começou a ser mais precioso que das músicas altas. E a casa, que já era abrigo, começou a se encher de outras pessoas, de flores e de sóis.

Quando a noite foi silenciando, o inverno veio me abraçar. Foi tão temido e mal falado. A verdade é que poder me acomodar debaixo do cobertor, trouxe uma sensação de paz. Ter todas as estações num dia parecia corrido demais e eu senti que não consegui aproveitar todas elas. Mas a oportunidade de olhar pela janela o escuro gelado, estando quente aqui dentro, me fez ver que foi um dia lindo. Lindo.

Adormeci. Quem sabe o que vem pela frente?!

Resenha de leitura - É assim que acaba

segunda-feira, 15 de maio de 2023


 

Olá estranho!

Vamos lá, esse blog não é um diário, então não vou ficar explicando que eu não posto nada há anos, mas nunca tive coragem de desativar. Fato é que continuei escrevendo e sempre pensei em retomar com algum foco. Seguimos.

Despois de mudanças, maternidade e afins estou tentando (já há um bom tempo) retomar uma rotina de leitura. Com uma bebê que não dormia era muito difícil, mas eu já não tenho mais essa desculpa. Então por que não juntar o útil ao agradável e voltar ao blog com resenhas literárias?
Vou começar pelo lido mais recente, best seller “É assim que acaba” (título original: “It ends with us”) – autora Coleen Hoover.
Veio como indicação de uma amiga que também está retomando a leitura – com muito mais sucesso do que eu – e ela também me emprestou o livro. Obrigada, Ro!
Pelas minhas conversas com essa amiga, eu tinha alguma ideia sobre a temática, mas não quis pesquisar mais nada antes de ler. Confesso que eu estava esperando uma leitura um pouco diferente. Logo no início, pela estrutura da escrita, perfil dos personagens etc, já vi que era uma leitura YA (categoria literária Young Adult). Que na verdade depois descobri que ele se encaixa em uma nova categoria de New Adult – que traz personagens já não mais tão adolescentes e pode trazer temas mais complexos e um pouco de soft porn (conveniente).
Longe de mim qualquer preconceito contra leituras YA, gosto de vários e acho que eles funcionam muito bem no propósito de pavimentar o caminho de leitores assíduos. Em geral, eles tem uma estrutura de escrita e fluxo de leitura muito fácil. São livros rápidos, que te prendem e não te exigem muito. Nesse sentido, posso dizer que este livro era exatamente o que eu precisava num momento de retomada. Ele tem 366 páginas, contando com notas da autora e agradecimentos. Ou seja, é um livro longo, mas que mesmo assim eu li em um dia com algumas paradas e estando “fora de forma”. Leitura bem fácil, com muitos diálogos, te prende e é fluido.

Mas, direto ao ponto: ele é bom ou não é? Eu gostei ou não gostei?
Caracterizar como “bom ou ruim” é muito pessoal. Na minha visão: tem melhores. Honestamente, achei que ele poderia trazer a mesma temática, talvez até a mesma história, com personagens mais bem construídos. São rasos, a passagem de tempo é um pouco truncada e perde a oportunidade de explorar os temas complexos com mais profundidade. Mas acima de tudo: clichês! Clichês everywhere!!! Até pouco mais da metade do livro eu me senti lendo uma mistura de Crepúsculo com 50 Tons de Cinza. Há mais de 10 anos eu não lia um livro assim.
Porém, na segunda metade ele me cativou na temática e, por mais fórmula pronta que seja, admirei que a autora teve a firmeza de manter o caminho que ela começou.
Se eu gostei? Sim, considerando e respeitando a relevância que tem este tipo de leitura e o tema ao público que se destina. Ele definitivamente não entra no meu rol de livros favoritos, mas eu entendo que tenha uma parcela de pessoas que amaram. Tanto é que ele está na lista de mais vendidos há muito tempo. Ele também tem uma boa fórmula de filme, na verdade a receita pronta. Tanto é que, depois de terminar a leitura, a primeira coisa que eu pensei foi: eu aposto o que for que já tem uma adaptação ou projeto de adaptação pra cinema, dito e feito. [OFF: que aliás, eu vou assistir porque será com o Justin Baldoni e quem assistiu Jane The Virgin me entende].

A PARTIR DAQUI CONTÉM SPOILERS.
Falando um pouco mais sobre o livro em si: é um romance narrado em primeira pessoa pela personagem principal, Lily Bloom. Lily é uma jovem de 23 anos que trabalha em uma empresa de Marketing e tem o sonho de abrir o próprio negócio, uma floricultura. Todo o livro é um relato da vida atual de Lily com alguns flashbacks da sua adolescência trazidos através da leitura de diários antigos. Ela cresceu num lar com muita violência doméstica (do pai com a mãe). O que faz com que ela tenha péssimas lembranças do pai (recém falecido) e muitos ressentimentos com a mãe que, na visão dela, nunca fez nada pra tentar sair daquela situação (criava desculpas, não denunciava e aceitava calada). Além deste tema sensível, durante a adolescência ela também se envolve com um garoto em situação de rua, que foi colocado para fora de casa ao completar 18 anos. É um relacionamento bonito de se ver e que aborda o tema até de forma interessante, especialmente quando ela questiona ele sobre buscar outros caminhos e ajuda e o livro traz de maneira rápida, mas clara, de que não é tão simples assim e sobre a importância de se ter apoio e oportunidades. A amizade (e romance) entre os dois dura pouco, apenas alguns meses, e então o rapaz – Atlas – se muda de cidade, se alista na marinha e eles passam anos sem contato.
O livro começa com um encontro um pouco improvável de Lily com Ryle, num momento difícil de muita dor para ambos. E aqui também começam os clichês. Lily é bem o perfil daquela mocinha de filmes adolescentes. Ryle, é claro, é lindo de tirar o fôlego, rico e um neurocirurgião de sucesso. Quais as chances?
A primeira conversa deles escalona muito rápido de um “o que você está fazendo aqui?” pra assuntos profundos e uma tensão – e proposta – sexual. Ao longo da história, Lily e Ryle entram num relacionamento intenso – também cheio de clichês de “eu não quero romance, só quero ser bem sucedido e sexo casual, mas estou perdidamente viciado em você e posso mudar tudo”. Há um reencontro com Atlas (além de outros encontros muito convenientes e cheios de coincidências) e então as coisas começam a ficar um pouco mais complicadas. Em determinado momento, o “cara rico, lindo e maravilhoso” começa a ter reações violentas e episódios de agressão, o que coloca Lily em crise pois se vê numa situação parecida com a da sua mãe.
Pra mim, essa é a parte positiva do livro. Embora os acontecimentos venham numa velocidade de narração meio esquisita e a autora gaste mais tempo descrevendo cenas de sexo do que outros momentos que ela poderia ter explorado melhor, ainda assim fica muito claro que a violência doméstica não acontece de uma hora pra outra e que existem muitos níveis de complexidade nas relações. A trama beira a tentar “justificar” o comportamento de Ryle e eu fiquei bem preocupada de que seria mais uma historia de “mocinha salva o cara gostoso que não sabe se relacionar”. Mas, como eu comentei no início, UFA que a autora se manteve firme no seu propósito e levou a abordagem pra um sentido de “ok, você tem seus problemas, mas eu não preciso lidar com eles e tchau”.
É aqui que eu acho que o livro “se salva”. Considerando o público a quem é destinado, é importante falar abertamente sobre alguns temas tão sensíveis e trazer a possibilidade de algumas mulheres se reconhecerem naquela narrativa e cortarem por terra histórias que poderiam ser (mais) trágicas.
E, pra mim, a pior parte do livro: embora não ache que a violência e o relacionamento abusivo sejam romantizados aqui, achei bem problemático que o agressor não tenha sido denunciado por ninguém e sua única “condenação” tenha sido ficar sem a esposa.

Existe um segundo livro de continuação – que eu vou ler, sim, porque sou curiosa e é mais uma leitura rápida. Vamos ver se a autora abordou isso ou não. Embora suspeito que o segundo livro deva ser mais água com açúcar sobre o relacionamento de Lily com Atlas (o ex-amigo-namorado mendigo que ela reencontrou).

E você? Já leu esse livro ou outro da autora? Gostou? Me recomenda alguma leitura?

Próxima resenha: A mulher do viajante no tempo (título original: “The time traveler’s wife”. Autora Audrey Niffenegger)

Observações diversas de encontros da vida - O cara da livraria

segunda-feira, 23 de abril de 2018



Não vou mentir e nem tentar disfarçar. Este relato tem forte influência do blog de Ifemelu. Caso você não saiba do que estou falando, dê um google e vá atrás de descobrir (sim, isso é propositalmente uma dica de leitura).

De qualquer forma, o que me motiva a fazer esse relato são encontros curiosos com conhecidos ou não que temos ao longo da vida. Tendemos a ignorar muitos destes encontros e não nos damos conta de como, mesmo insignificantemente, eles podem dar graça aos dias.
Sexta-feira. Eu estava numa grande livraria apenas passando o tempo para dar o horário da janta que estava marcada.
Carregava um novo livro e estava muito curiosa para começar a leitura. Por alguns minutos pensei se valia mais a pena buscar o mesmo livro nas estantes e devolver ao sair, mantendo o meu em segredo. Afinal, poderia parecer estranho alguém lendo no meio da livraria e ao sair simplesmente guardar o livro na bolsa. Sabia que não tinha por que temer os olhares tortos de desconfiança – (in)felizmente tenho privilégios sobre isso – e, somado à preguiça de buscar pelo livro e/ou precisar perguntar para algum vendedor, resolvi sentar numa poltrona e tirar meu próprio da mochila.
Escolhi, escolhi e escolhi e acabei me sentando num lugar entre dois rapazes que aparentemente faziam reunião por audio de whatsapp (e um deles deixava o áudio aberto para que todos ouvissem também). Depois de algumas páginas me cansei do barulho e procurei outro lugar.
Sentei próxima a um rapaz que estava concentrado mexendo no celular. Este não vai me atrapalhar.

- Oi, desculpe... esse livro é bom?
- Na verdade, não sei ainda. Acabei de começar a leitura, mas estou bastante interessada.
- Ah, estou com vontade de ler... Alguns amigos me falaram bem.

Mentira. Tinha certeza de que ele nem tinha conseguido sequer ver a capa do livro. Não sabia de qual se tratava.

- Ah, é? Sim, parece bom. Eu adorei o filme, então fiquei curiosa sobre o livro.
- Ah... tem filme também?

Comprovação da mentira. Se ele tivesse qualquer informação sobre o livro, saberia também de que se tratava de um dos filmes mais comentados do ano, concorrendo a vários oscars.

- Sim... você sabe sobre do que se trata?
- Hum... É... não...
- É uma história de amor entre um adolescente de 17 anos e um aluno do seu pai, de 24. É um romance. Escrito em primeira pessoa em forma dos pensamentos e memórias do personagem principal.
- Um alunO?

Provavelmente nesse momento ele percebeu que foi uma péssima ideia ter puxado papo sobre um livro que supostamente ele estava muito interessado, mas que na verdade não tinha informação nenhuma a respeito.
Eu queria cortar o assunto. Tinha mudado de lugar para não ser atrapalhada por barulhos. A ultima coisa que eu queria era ser interrompida por cantada barata de livraria. Além do mais, estava realmente muito interessada livro. Mas a educação falou mais alto.

- Sim, é uma história de dois rapazes. Mas não sobre preconceitos ou dramas. Sobre amor.
- Nossa........
- Olha, o livro parece bom e o filme é muito bom também. Se você está interessado, vá atrás que vale a pena.

Achei que tivesse ganhado. Mais dois minutos. Mais uma página.

- Desculpa.... posso te perguntar uma coisa?
(Não. Não pode. Você não percebeu que está me atrapalhando?)
- Claro
- Estou namorando uma menina há 1 ano e meio...  E hoje meu plano é pedi-la em casamento
- Sério? Nossa! Que legal! (ok... por essa eu não esperava)
- Sim... Mas tem uma coisa (sempre tem)... Hoje eu descobri que ela está mentindo pra mim. E agora não sei o que fazer
- Como assim? (confesso que aqui já era uma mistura de “me deixa em paz” com “fala logo, que estou curiosa")

Ele contou uma história que não me lembro de detalhes. Algo sobre um telefonema em que fez uma pergunta e sentiu que ela estava mentindo. Pareceu tão bobo. Tão bobo que eu, que odeio mentiras, dei uma resposta que surpreendeu até mesmo a mim. Acho que fiquei ainda mais irritada por ter sido atrapalhada por algo irrelevante.

- Olha... todo mundo mente.
- .......
- As pessoas mentem todos os dias por mil motivos. Não adianta só você se apegar no fato de ela estar mentindo. Sobre o que era a mentira? Qual a motivação? Impacta outras coisas? Foi a primeira vez?
- Não acho que foi a primeira vez, não sei o tamanho que pode ter e não sei o que fazer. Pode me dar um conselho? O que eu faço agora? Continuo com meu plano? Finjo que nada aconteceu? Tento descobrir algo mais?

Quem sou eu pra dar conselhos? Tenho cara de psicóloga ou vivida?

- Não posso te dizer o que fazer. Eu nem sei toda a história. Só você pode decidir.
- O que você faria?
- Eu? Seria 100% sincera. Cartas na mesa. Perguntaria na lata.
- Mas isso é meio assustador.
- É sim... Você pode fingir que nada aconteceu também. É sempre uma saída fácil. Mas você quer pedir em casamento alguém com quem você não pode ser totalmente transparente?
- É, acho que você tem razão.

Telefone toca. Conversa rápida.

- Ela chegou. Até mais. Desculpa ter te atrapalhado. Obrigado pela ajuda.
- Não tem problema... Boa sorte!

E assim eu posso ter interferido no futuro de duas pessoas que eu sequer sei o nome. Com uma conversa que, se não fosse este registro, provavelmente eu esqueceria que aconteceu.

Uma quarta-feira comum

quinta-feira, 5 de novembro de 2015


Hoje é quarta-feira. Já é quase meia noite e amanhã é um dia normal de trabalho.
Estou sentada no sofá e tem uma pequena árvore de natal do meu lado. Casa.
Eu escrevo da sala e tem alguém trabalhando no quarto. Numa quarta-feira comum. Meu amor está aqui.

Estou iniciando um novo projeto pessoal, me distraí e acabei lendo textos antigos perdidos no blog.
Casa. Quanta coisa mudou.
É difícil encontrar inspiração quando a gente se sente tão... completa!
Há 3 anos eu sentia uma raiva sem tamanho. Raiva de mim, raiva dele, raiva dos outros. Jurei que ia esquecer e nunca mais queria ver nem pintado a ouro. E agora ele está aqui, há menos de 10 passos de distância. Numa quarta-feira comum.

Há 7 anos eu estava encantada com a minha iniciação científica na faculdade e queria dedicar a minha vida fazendo pesquisa para Química Médica. Quatro anos depois eu dei pulos de alegria porque tinha finalizado as minhas disciplinas práticas e eu não ia mais precisar fazer mil relatórios. E hoje eu estou pensando seriamente em fazer uma pós-graduação em Marketing ou algo do gênero.
E estou aqui fazendo contas de como eu posso pagar isso. Numa quarta-feira comum.

Há 10 anos eu tive uma fase hippie e achava lindo coisinhas naturais e bijuterias artesanais. Saia longa e rasteirinha de couro, por que não?
Agora estou aqui, pensando em que roupa vou usar no workshop que tenho amanhã. Provavelmente uma blusa bonita e um sapato de salto. Com certeza nenhum adereço artesanal. Numa quarta-feira comum.

Nunca sei se são as circunstâncias que mudam, ou se sou eu.
Ontem ao sair do metrô tinha uma moradora de rua, não era a primeira vez que eu a via. Daquelas que dá um incômodo na gente de olhar, uma mistura de dó com não saber o que fazer. Passei por ela, mas depois de alguns passos dei meia volta. Deixei o que eu tinha de trocado - menos de 2 reais, e uma pequena palavra de "Deus te abençoe", esperando que ela entendesse como um desejo sincero e não um deboche. Não fez nenhuma diferença pra mim, mas talvez ela possa ter tomado um café ou comprado um pão.

A questão é: observando todas essas mudanças na minha vida, todas as mudanças bobas em mim, hoje eu gostaria de ter deixado mas dinheiro, de ter feito algo a mais.
Eu posso não ser a mesma pessoa que era há 2, 5 ou 10 anos atrás. Mas como quer que tenha acontecido cada pequena mudança sutil, eu estou aqui. Em casa, com uma árvore de natal do lado e alguém que me ama me fazendo companhia.
Para algumas pessoas as mudanças não são tão sutis e nós nunca saberemos. É bom lembrarmos de cuidar uns dos outros.
Não sei onde eu estarei numa outra quarta-feira comum.

Eu prefiro ser feliz...

sexta-feira, 17 de abril de 2015



Sabe aquela frase que diz “é melhor ser feliz do que ter razão”? Então, eu que inventei.
Ok, é mentira. Mas poderia ser.

Às vezes eu quero pagar de orgulhosa, muitas vezes eu já disse “fulano que venha atrás de mim”. Mas no fundo, no fundo, eu sou aquela pessoa que sempre prefere se “rebaixar” ou cortar uma discussão no silêncio, dando o “triunfo” ao outro a testar a amargura.
Existe um termo em inglês muito bom para isso: “pushover”. Uma pessoa “pushover” é alguém que é muito facilmente convencido de algo, maleável, pode-se até dizer facilmente manipulável. Como vê, não é um termo muito positivo, então não tem nada do que se gabar dele. Mas a questão é que eu sou uma pessoa feliz, eu não carrego mágoas e nem culpas.

Não foi algo que me transformou, eu sempre fui assim. Eu nunca tive problema em pedir perdão ou perdoar. Sou daquelas que briga com o namorado por algo que ele fez de errado, mas meia hora depois chego perto e eu é quem peço desculpa. Para algumas pessoas eu sou uma sonsa, para outras sou sem personalidade, pra mim eu sou feliz.

Algumas pessoas simplesmente não conseguem fazer isso. Elas vão acumulando mágoas, brigas, discussões, problemas mal acabados, guardando tudo dentro de si e se tornam totalmente amargas. Minha mãe tem uma expressão ótima para essas pessoas, que eu adoro! São “pessoas de coração peludo”. É isso mesmo. Tem tanta coisa em volta, tanto peso em cima do coração delas, que elas não conseguem ser felizes. Não conseguem ser algo de bom na vida das outras pessoas e nem na delas próprias. Eu tenho dó dessas pessoas. E um medo sobrenatural de um dia ficar assim.

Eu nunca vou entender esse “orgulho” fora do normal que alguns tem. Preferem deixar um vão, aquela sensação ruim nos seus relacionamentos, a terem que chegar para alguém e dizer “me desculpe se o que eu disse te magoou”. Me digam, amigos  orgulhosos, é tão difícil fazer isso? Não é uma crítica, eu realmente não entendo como pode ser.
Uns meses atrás eu fui falar com alguém e pedir desculpas por um comentário em brincadeira que eu fiz sobre uma salada e tive medo de que a pessoa tivesse ficado magoada. Sim, uma salada. Porque não existem dimensões para onde se pode ou não ofender alguém.

Não estou dizendo também que seja algo banal para mim. Acredite, não é fácil. Todas as vezes que eu preciso pedir desculpas por algo ou ouvir alguém me pedindo perdão e eu tendo que perdoar, eu fico muito nervosa. Sempre. Minhas mãos suam, eu fico vermelha, às vezes eu quero chorar de vergonha e eu tenho lá no fundo da alma uma pulguinha. Uma pulguinha preta que fica pulando e tentando gritar “não peça desculpas, você não teve culpa!” ou então “não perdoe, ele vai fazer de novo!”. Mas eu não quero alimentar essa pulga, não quero deixá-la crescer e ser um peso.

Eu me dou bem com todo mundo. Não tenho desafetos. Não me envolvo em brigas e discussões. Não sei o que é xingar alguém de boca cheia com o objetivo de magoar, nunca na vida fiz isso.
Acho que um pouquinho de orgulho pode significar auto preservação. Eu sei que eu tenho esse pouquinho, da minha vida inteira existem duas pessoas com as quais eu cortei relações completamente, nunca mais falei e provavelmente nunca mais vou falar, porque foi melhor assim. Mas nem dessas eu guardo mágoas. Tem tanta beleza no mundo, eu não quero sentir o gosto amargo da tristeza para depois cuspir nos outros. Eu quero ser feliz.
Então acho que vou continuar sendo uma pushover, mas levantando todos os dias de coração leve.


E você? Prefere ser feliz ou ter razão?

a sua mão

quinta-feira, 12 de março de 2015



Quando você chegou eu dei risada do seu jeito bobo,
do seu sorriso torto,
seu cabelo solto
Esperou três dias para me perguntar meu nome
Quando perguntou eu quis passar rg, cpf e saber se estava com fome
Te adicionei no orkut, msn, skype e icq...
Queria que fosse 20 anos mais cedo, só me restaria o telefone e mais o que?
Conversas bobas de quem está na faculdade sem saber se é para estudar ou arrumar um amor
Quando me chamou para sair, eu só ficava pensando se iria pegar na minha mão e se eu entraria em pavor
Rolou cinema, sorvete, shopping e multidão
Mal sabia eu que ainda haveria tanta confusão
Não me lembro a roupa que eu usei, mas você estava lindo de vermelho
Só sei que eu fiquei umas duas horas me olhando no espelho
Acho que eu sempre soube que era pra sempre
Mas preferi olhar pra frente
Te via numa festa e pensava "ele não presta"
Virou amigo, confidente, carona e até irmão
Mas eu ainda queria segurar a sua mão
Veio, foi, deu meia volta e voltou
"Agora a gente vai ficar junto", meu coração suspirou
Se foi destino ou acaso vai ficar pra outro caso
O que importa é que agora todo dia tem cinema, sorvete, shopping e multidão
E eu posso segurar a sua mão.

Adeus 2014... Olá 2015

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014



Passei dois meses sem escrever nada por aqui e meu último texto nem era "meu".
Mas acho que foi um tempo bom. Foi um período que eu precisava para repensar algumas coisas sobre a minha vida, sobre minhas escolhas e até mesmo sobre o blog.

Uma das coisas que tenho pensado muito nos últimos meses é "que tipo de pessoa eu sou?", "que tipo de pessoa eu quero ser?" e "que tipo de coisas eu quero transmitir?".
Lembro-me de 8 anos atrás (mais ou menos) quando um colega de cursinho que nunca tinha trocado muitas palavras comigo me disse assim: "mesmo sem nunca termos conversado muito, eu sempre gostei de você. Sempre senti uma energia boa e você me transmitia algo bom!". Alguns anos depois ouvi de um outro rapaz, no mesmo dia que o conheci, que eu tinha uma "luz" e transmitia algo muito bom.
Tenho pensado muito sobre isso. Sobre qual a minha missão e que tipo de pessoa eu quero ser no mundo. Isso me fez rever muitas coisas. Mas, definitivamente, não é algo fácil olhar para si mesmo todos os dias.

Este ano de 2014 foi muito bom. Emocionalmente eu cresci tanto. E tive tantos planos falidos, que estou buscando ser grata por eles também.
Nunca fui de fazer "resoluções de ano novo", embora sempre vi essa época do ano com olhos de reflexão. Mas minha meta para 2015 é a meta de crescimento pessoal e espiritual. Me tornar uma pessoa melhor de dentro para fora, voltar a trazer luz para outras pessoas e com as minhas próprias mudanças internas observar e planejar melhor minhas metas "macro" para ter meus sonhos mais perto de mim.

De forma objetiva, meus primeiros planos são:
- ler mais (ainda) e fazer a separação de livros por categorias (prazer pessoal, crescimento profissional e pessoal). Já mudei bastante meus hábitos de leitura esse ano.
- fazer um "diário de gratidão". Quero escrever todos os dias algumas coisas de que sou grata.
- valorizar sempre mais e mais as pessoas que nunca nos deixam e os amigos de verdade e mantê-los o mais perto possível
- ir mais à igreja

Acredito que essas poucas coisas, que partem diretamente de mim, podem refletir em todos os outros aspectos. E consequentemente, o blog voltará a ser mais ativo também!

Vem comigo em 2015 :)

Coisas importantes que você aprende em uma semana sem maquiagem

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Essa postagem ainda não é uma "Parte II" do texto sobre beleza, mas é uma parte complementar.
Não sou do tipo de mulher que vive de cara rebocada, mas confesso que sou um pouco neurótica quanto à olheiras e a cara pálida de doente. Por isso, pra qualquer lugar que eu vou - qualquer lugar mesmo!, eu sempre uso pelo menos um corretivo e um pouco de blush. Durante a semana eu não costumo me maquiar de verdade, então quando tenho a chance de sair fico feliz por poder usar um pouco mais.
Mesmo assim, no domingo passado quando fui ao cinema com o meu namorado estava meio "nem aí" e falei pra ele "Hoje eu não vou passar maquiagem, tá?"
Para a minha surpresa a resposta dele foi "Graças a Deus! Há anos eu estou esperando uma mulher me dizer isso!". Ainda não sei se essa resposta foi por não precisar ficar me esperando ou porque realmente não vê necessidade na pintura toda.

Mesmo assim, foi muito interessante ler dois textos no BuzzFeed essa semana. Um - o que transcrevo aqui hoje - é sobre uma mulher que vive de maquiagem e fez o desafio de "maquiagem zero" por uma semana. E a outra foi o oposto, não usa maquiagem nunca e resolveu usar por uma semana. Os dois textos são interessantíssimos e achei justo traduzir para o português e postar aqui. Sei que ficou longo, mas acho importante que nós, mulheres, enxerguemos que beleza é muito mais do que simplesmente acharmos que estamos "bem arrumadas". Eu não fiz aquela tal selfie sem maquiagem, mas essa é minha contribuição para a campanha "Stop the beauty madness".

Segue a experiência da americana (acho) Erin La Rosa:



Eu acho que existem várias hipóteses sobre pessoas que usam maquiagem – que elas são inseguras, que tem vergonha de si mesmas e são vazias (ou fúteis). Mas essa não tem sido minha experiência com maquiagem. No mais, maquiagem me dá confiança.
Eu uso maquiagem praticamente todos os dias da minha vida desde os meus 12 anos. Eu venho de uma criação em que se maquiar é simplesmente parte da rotina. Na verdade, acho que nunca vi minha mãe sair de casa sem maquiagem.
Então foi por isso que eu quis saber como seria passar uma semana sem usar maquiagem. Depois de 17 anos usando todos os dias, eu queria saber se a minha confiança iria se manter sem ela.
O que eu descobri foi que, embora eu tenha me sentido super desconfortável na primeira metade da semana, eu aprendi mais sobre mim mesma do que eu jamais imaginei.
Aqui vão algumas lições que eu tirei dessa semana:

DIA 1 – QUANDO EU PERCEBI O QUANTO ME SINTO DESCONFORTÁVEL COM A MINHA “CARA LIMPA”




Eu nem sei te dizer quantas “selfies” eu tirei até conseguir chegar NESTA que eu postei no Instagram. E quantas vezes eu mexi no meu cabelo para tentar esconder uma espinha que estava se esgueirando pela franja. Eu me senti aliviada quanto as pessoas comentaram que eu estava bonita sem maquiagem, mas na verdade eu não acreditei muito nelas.
Eu não sou uma pessoa insegura, ou pelo menos eu não sou  quando estou usando maquiagem. Fiquei surpresa de me sentir constrangida o dia todo no trabalho – esse não é um sentimento que eu estou acostumada. Meus colegas de trabalho me disseram que eu estava com uma aparência ótima e que a minha pele estava linda. Naquele momento, eu tinha certeza de que eles estavam mentindo apenas para me fazer me sentir bem. Eu também estava convencida de que todo mundo estava me encarando e examinando cada centímetro da minha pele.

Mais ainda, não usar nenhuma maquiagem talvez tenha me deixado parecer mais “acessível”.
Eu não sei como dizer isso, mas eu levei mais cantadas quando não estava maquiada, o que foi extremamente confuso pra mim!
No “dia 1” eu fui a um jogo dos Dodgers (baseball) e fiquei realmente surpresa quando caras aleatórios tentaram puxar conversa. Isso não acontece normalmente comigo. Talvez fosse a minha guarda que estivesse baixa, ou não usar maquiagem me fazia parecer mais acessível? Eu não tenho ideia, mas isso também não me fez me sentir mais confiante.

DIA 2 – QUANDO EU PERCEBI QUE NÃO TER QUE ME MAQUIAR ME DAVA MUITO TEMPO PRA DORMIR


Eu tinha tanto tempo livre que eu dormi uma hora a mais. UMA HORA! Eu não levo todo esse tempo para me maquiar de manhã, mas eu acabo passeando pelo banheiro enquanto me maquio. Eu faço café e vou passando rímel. Como um muffin e passo blush. Sem precisar fazer isso eu voltei a dormir. Eu dormi muito! Foi delicioso!

DIA 3 – O DIA QUE NASCEU UMA ESPINHA E EU DESCOBRI QUE SAIR SEM MAQUIAGEM EXIGE MUITA CORAGEM


Quando nasce uma espinha, eu cubro essa merda. Eu passo uma camada de base, depois corretivo, às vezes uma SEGUNDA camada de corretivo e finalizo com pó pra que nada saia do lugar. (Que o mundo saiba da minha aflição!).
Quando você não usa maquiagem, você fica encarando aquela espinha, dá uma choramingada e então tenta esconder com o seu cabelo. Não dá pra enganar os outros, tem uma espinha piscando por trás de todo aquele cabelo.
Não ter maquiagem nenhuma pra cobrir a espinha é bem assustador e se sentir bem com isso exige muita coragem. Eu não me senti corajosa naquele dia, mas acho que qualquer pessoa que escolha mostrar sua cara lavada pro mundo, com todos os defeitos e tudo mais, merece uma puta de uma medalha. Isso é tudo o que eu tenho a dizer.

O terceiro dia também foi quando me disseram a PIOR coisa que eu poderia ouvir.
Essa coisa foi: “Você parece cansada.”
Nunca diga isso a alguém! Magoa e não é nem um pouco legal!


DIA 4 – NÃO USAR MAQUIAGEM ME FEZ ME IMPORTAR MENOS SOBRE A MINHA APARÊNCIA, DE FORMA GERAL


A espinha ainda estava lá, como você pode ver na foto. E eu decidi pôr em cheque o meu conforto. Eu iria sair por aí e ver como estranhos reagiam a mim. Claro, meus amigos eram suficientes para me dar apoio, mas eu queria ver como os outros reagiam.
Eu fui buscar uma sopa e fiz questão de olhar todo mundo nos olhos – como se tentasse ler seus pensamentos. Eu não sei o que eu estava esperando. Ninguém se encolheu ou mudou de direção. Eles apenas encararam de volta. Posso dizer, porém, que as pessoas pareciam menos educadas comigo enquanto eu caminhava por aí. Ninguém segurou a porta para mim, e quando alguém esbarrava em mim nem sequer pedia desculpa. Não tenho certeza se foi apenas uma coincidência ou um resultado de não estar usando maquiagem.

DIA 5 – QUANDO MEU NAMORADO ME FEZ ME SENTIR BONITA, QUANDO NINGUÉM CONSEGUIU


Eu DETESTO o fato de que foi preciso que meu namorado voltasse para casa depois de uma viagem de trabalho pra que eu pudesse me sentir bem comigo mesma. E eu odeio ter que escrever isso. Mas eu disse a ele que eu não estava usando nenhuma maquiagem e ele me olhou desacreditado e disse “Você está incrível!”. “Talvez você não devesse usar maquiagem todos os dias.”
Isso me fez me sentir melhor do que todo o resto da semana. Acho que é porque eu sempre confiei na opinião dele. Tipo, se minha mãe estivesse na cidade e me dissesse a mesma coisa, eu também teria confiado nela. Independentemente de qualquer coisa, eu realmente me sentia bonita. Estava sendo apenas eu mesma. E eu nem pensei no fato de que estava de cara lavada o dia todo. Eu relaxei e toquei em frente.


DIA 6 – ESTE FOI O PRIMEIRO DIA QUE EU COMECEI A APRECIAR OS MEUS “DEFEITOS”


Não sei porque, mas sempre vi minhas sardas como um defeito. (Será que posso culpar a mídia? Sim, vou fazer isso!). A mídia nem sempre parece demonstrar muito amor por pessoas de pele pálida, com sardas e cabelos ruivos. E, quando criança, não tinha ninguém parecido comigo na TV. Me lembro de assistir “A Pequena Sereia” repetidas vezes quando era criança, mas mesmo ela tendo cabelo ruivo, a pele dela era totalmente sem nenhum defeito. Nem uma sardinha sequer.
E claro, eu cobria todas as minhas sardas com base. Mas, como estava sem maquiagem eu tinha que olhar pra elas todos os dias. Pra ser sincera, foi bem difícil no começo. Eu sentia que elas eram algo que eu deveria esconder. No dia 6 em diante isso mudou. Não sei bem o motivo, mas eu realmente olhei para as sardas e pela primeira vez me senti feliz. Elas pareciam combinar com a minha pele pálida e meu cabelo ruivo. Até minhas sobrancelhas claras faziam sentido com todas aquelas sardas. Isso foi... um alívio. Aprender a gostar delas e realmente poder vê-las foi algo que me mudou também: eu não cubro mais as minhas sardas com base.


DIA 7 – O DIA QUE EU REALMENTE PERCEBI QUE A MAQUIAGEM PODE, DE FATO, SER COMPLETAMENTE SUBJETIVA



Eu saí para tomar café com uma amiga no meu último dia sem maquiagem. Eu estava nervosa com isso, já que estávamos indo num lugar que estava na moda e eu provavelmente veria muita ~gente bonita~. Eu contei para a minha amiga que ainda estava na minha “semana sem maquiagem” e ela respondeu “Mas você está usando rímel, não?”. Eu não estava, mas ela achou que sim.
E isso me fez pensar sobre como a nossa aparência é muito mais sobre como nós nos sentimos com relação a nós mesmos. E a minha lindíssima colega de trabalho, Leonora Epstein, também comentou sobre como nós simplesmente assumimos que todas as pessoas que encontramos estão usando maquiagem, porque é algo comum de se esperar hoje em dia.
Maquiagem é algo que eu realmente gusto de usar. Me faz me sentir mais poderosa, do mesmo jeito que uma linda calça jeans nova pode te dar mais confiança ou acordar num “dia de cabelo bom”. Mas no fim, isso não tem de verdade muito efeito sobre as outras pessoas ao redor, como eu sempre achei que tivesse. A questão é COMO você se mostra, como pessoa. Isso é que vai mudar a forma como os outros te tratam, e não o que você coloca no seu rosto.
Quanto a mim, acho que eu nunca vou parar totalmente de usar maquiagem. Mas que seja dito, faz duas semanas que terminei o desafio e tenho usado uma quantidade significativamente menor de maquiagem. Desde então, eu até fui trabalhar algumas vezes totalmente sem maquiagem.


FAZER ESSE DESAFIO REALMENTE ME AJUDOU A ENXERGAR ALGUMAS COISAS

1)   Eu não PRECISO usar maquiagem todos os dias. Especialmente se eu quero dormir um pouco mais ou se simplesmente não estou afim de ficar maquiada o dia todo.
2)   A minha aparência não fica realmente diferente sem maquiagem. Quero dizer, um pouco diferente fica, mas bem menos do que eu imaginava.
3)   Contanto que você se sinta confiante, com ou sem maquiagem, as pessoas vão te tratar exatamente da mesma forma.
4)   Não usar maquiagem exige muita coragem, e me sinto feliz em dizer que agora eu me sinto muito mais confortável sem ter nada no meu rosto. (Além do meu verdadeiro rosto, claro).

E AQUI ESTÃO ALGUNS MANTRAS QUE EU VOU REPETIR PARA MIM MESMA (E VOCÊ PODE REPETIR PARA SI MESMA) TODA VEZ QUE EU ESTIVER SEM MAQUIAGEM:

**POR QUE VOCÊ É LINDA QUANDO NÃO USA MAQUIAGEM**
1)   Sardas não são defeitos. Elas são parte de quem você é.
2)   Confiança não vem da maquiagem, vem de você mesma.
3)   Maquiagem é uma ótima ferramenta. Mas a realidade é tão bonita quanto com ela.


PS: para quem quiser ler o texto original no BuzzFeed é esse aqui!

Resenha de leitura - Trilogia Divergente

terça-feira, 16 de setembro de 2014



Nos últimos meses eu desenvolvi um amorzinho por leituras young adult, pelo simples prazer da leitura agradável. Isso quer dizer que eu procuro não ser muito crítica com relação a esses livros e simplesmente aceitar o que a história me traz. Em geral, são leituras rápidas e agradáveis.

Algumas pessoas têm com o que eu chamo de “orgulho literário” e ficam cheios de querer encher o peito na hora de falar que não leem determinado livro ou repetem o quanto adoram aquele autor inglês do século 19.
Eu não tenho vergonha de dizer que já li, leio e lerei livros como Crepúsculo, 50 tons de cinza e outros best sellers sem muito conteúdo. Também não tenho vergonha de dizer que gostei, no que eles se propõem, como uma leitura de passatempo. Não acho que isso limita o meu gosto literário. Como também não espero destes livros nenhuma “reflexão para a vida”. De qualquer forma, existem vários young adults que tem feito seu papel muito bem como ficção crítica, como é o caso de Jogos Vorazes, por exemplo.
A série Divergente foi uma das minhas escolhas de leituras de férias para julho passado. Assisti ao primeiro filme no cinema, achei que os livros podiam ser uma leitura agradável e não me enganei. São três livros longos, mas que seguem uma linha de leitura bastante fluída. Como eu estava de férias e tinha bastante tempo, li os três muito rápido.

A história é uma distopia. Num futuro, após situações de guerras desconhecidas, o “mundo” está dividido em facções que cooperam para o bem e o equilíbrio da sociedade como um todo. Mas uma garota de 16 anos será a protagonista de um conflito e um segredo que colocará em risco a sociedade como todos conhecem. Humm, isso soa familiar? Sim!
Eu realmente não gosto – e não vejo sentido – de ficar comparando livros. Mas é realmente inevitável comparar a série Divergente com a série Jogos Vorazes. Claro que cada um tem suas particularidades e dramas, mas o pano de fundo para o desenvolvimento é o mesmo.
Eu, particularmente, gostei muito mais de Jogos Vorazes. Na verdade, como já comentei acima, acho que ele traz um contexto crítico muito mais forte (especialmente o primeiro livro) e personagens mais complexos e melhor construídos. Então, se você não leu nenhuma das duas séries e se interessou, sugiro que pare por aqui e busque Jogos Vorazes primeiro.

Mas falando das particularidades de Divergente. A sociedade é dividida em cinco facções – Abnegação, Audácia, Amizade, Erudição e Franqueza – em que cada uma tem seu papel político e social na estrutura da cidade, ou seja lá onde eles pensam que estão. Cada jovem deve definir qual será sua facção pelo resto da vida aos 16 anos. Para isso, é feito um teste de aptidão que indica uma das facções, mas cada um tem “liberdade” de fazer sua escolha pessoal, independentemente do resultado do teste. “Liberdade” entre aspas, pois se após a escolha a pessoa não se adaptar ao estilo de vida da sua nova facção ela é convidada a se retirar (uma forma delicada de dizer “expulso”) e se torna um “sem-facção”, que basicamente é a escória, não possuem nenhum papel social e vivem de esmolas e ações de caridade feitas pela Abnegação.

Beatrice Prior é uma garota cheia de complexos devido à sua criação reprimida no setor da Abnegação e tem uma surpresa ao fazer o seu teste de aptidão: ela se encaixa em três facções diferentes. Por sorte, quem fez sua avaliação resolve “ajudá-la” dizendo: “Você se encaixa em três facções e não apenas uma. Pessoas assim são chamadas Divergentes. Isso é muito perigoso. Não conte para ninguém sobre isso e vá para casa agora!”.
Ótimo, para uma menina que já era cheia de complexos, agora ela é um tipo de aberração perigosa e nem sabe o porquê.
Em resumo, mesmo vivendo com a culpa constante pela decepção de seus pais, ela escolhe ir para a facção da Audácia. Seus membros, além de serem a polícia local e vigiarem os muros da cidade, vivem basicamente para correr perigos desnecessários, escalar paredes e pular de trens.
Quando Tris (Beatrice) passa pelos muros da cidade, numa excursão com a sua facção, se dá conta de que os portões são trancados pelo lado de fora e não pelo lado de dentro. Então, seja lá o motivo de terem construído os muros, foi para mantê-los lá e não evitar que algo entre. Não vou entrar no conflito principal do primeiro livro, mas essa informação é o suficiente para que se dê todo o resto da história.
O segundo livro (Insurgente), embora seja longo, com 511 páginas, é quase um livro intermediário e apenas isso. A autora optou por enrolar e criar mais alguns mini conflitos na história apenas para que fosse uma trilogia, mas essencialmente era possível permanecer na mesma história com apenas dois livros. Mesmo assim, como a leitura é agradável e rápida, fico feliz por ela ter dado 500 páginas a mais de presente.
Apenas no último livro a história dá uma reviravolta e fica mais interessante novamente e é onde a autora tenta nos enfiar uma crítica ao mundo moderno, mas não acho que deu muito certo. De qualquer forma, promete um fim surpreendente e empolgante.

Por que eu gostei? Gosto de distopias, gosto de mistérios e gosto de livros que me deixam curiosa com o passar da leitura.

Por que eu não gostei? Mesmo que a construção da Tris tenha sido de forma a criar uma garota forte e corajosa ela ainda se encaixa muito nos padrões de personagens adolescentes “feia-complexada-apaixonada”. Não tenho problema nenhum quanto a isso, porque afinal, ela é, de fato, uma adolescente de 16 anos apenas. Só que não consigo evitar que isso me incomode. Tem algumas horas que ela quase idolatra o Tobias e dá vontade de gritar “Vai minha filha, você tem problemas maiores pra resolver agora!”. Mas talvez isso seja apenas porque eu gosto muito da construção da Katniss, de Jogos Vorazes. Que, embora traga uma pseudo-história romântica em forma de triângulo, nenhuma das atitudes ou pensamentos da Katniss foram no sentido romântico, ela sim é uma personagem muito forte.

Enfim, falei demais. Mas acho que o que queria dizer mesmo é que recomendo esta série, mas com o cuidado de se deixar bem aberto ao que ela traz. É um bom livro.

Títulos: Divergente (livro 1), Insurgente (livro 2) e Convergente (livro 3)
Autora: Veronica Roth
Editora: Rocco

Páginas: 502 (livro 1), 511 (livro 2) e 526 (livro 3).